sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O "SELF"

 


O “eu” não é uma entidade fixa, nem uma essência escondida dentro de nós. Ele é um processo dinâmico, plástico, em constante reconstrução. O self surge da integração de inúmeras atividades cerebrais que, juntas, criam a sensação de continuidade, identidade e autoria. Em outras palavras, o “eu” é uma obra que o cérebro compõe a cada instante.

No nível mais básico, o self nasce da percepção do corpo. Áreas como o córtex somatossensorial, a ínsula e o tálamo registram sensações internas batimentos, temperatura, respiração e dão ao organismo a noção fundamental de estar vivo. Esse é o “eu corporal”, o núcleo mais primitivo da identidade, aquilo que sentimos antes mesmo de pensar.
Sobre esse núcleo, o cérebro adiciona camadas. O sistema límbico colore as experiências com emoção, criando memórias afetivas que nos dizem o que é agradável, perigoso, desejado. A emoção organiza o self, porque é ela que atribui valor ao que vivemos. Sem afeto, não há narrativa; sem narrativa, não há identidade.
Depois, entram as funções superiores. O córtex pré-frontal permite reflexões, escolhas, planejamento e autocontrole. É ali que surgem pensamentos como “eu fiz”, “eu quero”, “eu decido”. Essa parte mais sofisticada do self nos dá a sensação de autoria a ideia de que somos agentes e não apenas espectadores do nosso comportamento.
Por fim, o cérebro integra tudo isso em uma história. Áreas responsáveis pela memória autobiográfica, como o hipocampo e o córtex pré-frontal medial, costuram passado, presente e futuro. O “eu” então deixa de ser apenas uma coleção de sensações e pensamentos momentâneos e passa a ser uma narrativa coerente, que nos acompanha e nos diferencia.
Assim, o self é uma construção contínua, sustentada por múltiplas redes neurais que trabalham juntas. Cada emoção, cada lembrança, cada escolha altera um pouco essa construção. Somos, neurologicamente, seres em permanente edição. O “eu” não é encontrado dentro do cérebro ele é criado por ele, momento após momento.

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