"Mamãe, vendemos sua casa e seu carro. Precisávamos do dinheiro para a Europa. Tchau!!" E desligou.
O que ela não sabia... é que meu marido, antes de partir, recebeu um aviso espiritual muito forte.
Meu nome é Antônia. Tenho 71 anos. E naquele momento, sentada no banco da igreja vazia onde fui buscar refúgio, senti meu mundo desabar.
Ángela, minha menina. A criança que consagrei a Deus. A mulher que agora, com a voz fria e distante, me tirava tudo.
"Já vendemos, mãe. O dinheiro já está na conta do Eduardo. Não adianta chorar."
Desliguei o telefone. Olhei para o altar. E pela primeira vez, não pedi socorro. Apenas agradeci.
Porque lembrei de algo que Roberto me disse três dias antes de seu infarto.
Roberto era um homem de fé. Espírita convicto, sensível, vivia dizendo que "o véu estava ficando fino".
Naquela manhã, ele acordou suando frio. Segurou minha mão com força e disse: "Antônia, tive um sonho. Um aviso. O mal vai tentar entrar na nossa casa através da ganância. E vai usar quem a gente mais ama."
Eu me arrepiei. Mas ele estava sereno.
Ele se levantou, foi até o escritório e voltou com um envelope pardo lacrado com fita.
"Guarde isso na sua Bíblia. Só abra se você se sentir desamparada. Se sentir que te tiraram o chão."
Eu guardei, achando que era bobagem da idade. Veio o velório, a dor, o luto... e o envelope ficou lá. Esquecido entre os Salmos.
Mas agora, com a traição de Ángela queimando meu peito, corri para casa.
Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar a Bíblia. O envelope caiu no meu colo.
Ao abrir, não encontrei apenas papéis. Encontrei a resposta de Deus.
Havia três coisas ali:
A escritura da casa — passada para usufruto vitalício em meu nome, com uma cláusula de inalienabilidade. Ou seja: Ninguém podia vender aquilo sem minha assinatura.
O documento do carro — transferido para um fundo que só seria liberado após 2 anos da morte dele.
E uma carta. Escrita à mão. Com a letra trêmula dele.
Foi essa carta que me fez cair de joelhos no chão do quarto.
"Minha querida Toinha,
Se você está lendo isso, é porque minha intuição não falhou. Os espíritos amigos me alertaram que a cobiça rondava nossa filha e o marido dela.
Eles acham que são espertos, mas esquecem que Deus vê tudo. A semeadura é livre, meu amor, mas a colheita é obrigatória.
Bloqueei tudo legalmente. Eles não venderam nada. Devem ter pegado dinheiro adiantado de algum agiota ou comprador, prometendo o que não tinham. A mentira tem perna curta.
Mas deixei algo a mais para você. Olhe a conta poupança que abri no banco da esquina. A senha é o dia do nosso casamento.
Não deixe que a mágoa apodreça seu coração. Ore por eles. Eles vão precisar."
Liguei o computador. Acessei a conta. Lá estava o fruto de 45 anos de trabalho honesto dele. Protegido. Intocado.
O telefone tocou novamente. Era Ángela.
"Mãe? O comprador está aqui furioso. Disse que a documentação está bloqueada no cartório! O que está acontecendo?!"
Respirei fundo. Senti uma paz que só quem tem fé conhece.
"Minha filha...", disse eu, com a voz embargada, mas firme. "Lembra do quarto mandamento? Honrar pai e mãe?"
"Mãe, para com isso! O Eduardo está desesperado, já gastamos por conta!"
"Então diga ao Eduardo para orar. Porque o que seu pai fez não foi apenas proteger o meu patrimônio. Foi proteger a alma de vocês de cometerem um pecado ainda maior."
Desliguei.
Não chamei a polícia. Não precisei. A justiça dos homens é falha, mas a Lei do Retorno é implacável.
Eles tiveram que devolver o dinheiro que pegaram. Ficaram endividados. A viagem para a Europa virou fumaça.
Hoje, seis meses depois, continuo na minha casa. Ángela vem me ver. Está mudada. Mais humilde. O orgulho foi quebrado pela vergonha.
Ainda oro por ela todos os dias. O perdão é um exercício diário, difícil, mas necessário para quem quer evoluir.
Mas todas as noites, olho para a foto de Roberto e agradeço.
Ele me ensinou que o amor verdadeiro não é só beijo e abraço. Amar também é impedir, com firmeza, que o outro se perca no caminho do mal.
Deus não dorme. E quem tem proteção espiritual, nunca, jamais está sozinho.

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