domingo, 20 de julho de 2025

Como uma águia americana - JH2

 


Bom, eu até que tentei, mas não sei não, cara. Veja: eu tenho olhos para “olhar”, cabeça para pensar e... não muito tempo para sonhar.

Por falar em sonho... na noite passada sonhei que estava voando — literalmente.
Sempre acontece isso. Eu voava ao redor de uma montanha e, quando cheguei lá em cima, no topo, olhei para baixo... e não vi o solo. Só uma névoa escura.
Meu Deus!

No topo da montanha, havia um muro enorme!
Mas perceba que coisa engraçada: eu voei até lá em cima, mas depois não conseguia pular o muro. Fiquei encurralado.
Nossa... que sensação estranha.

Alcancei o topo, mas não conseguia mais voar!

Céus!
Permita-me... o que fazer agora?
Na minha frente, um muro muito alto. Atrás de mim, um abismo incomensurável. Desmedido.

Meu pai, chame a mamãe, estou de partida!

Quero de novo as minhas asas. Eu as mereço.
Não, não, não... aqui eu não posso ficar!

Então, em desespero, comecei a dar uns pulos — com muito esforço.
Eu sentia uma enorme dificuldade para me elevar. Cada pulo dava a impressão de pesar uns 200 quilos sobre o meu corpo.

Sansão, o leão está vindo. O que faço agora?!

Por um momento, percebi que não tinha mais jeito. Saltar no vazio era a única solução.

Ernesto...

Depois de muitas lágrimas, com um nó na garganta, pensei:
“Ah! Não vou viver para sempre mesmo... O jeito é pular daqui de cima, e me esborrachar lá embaixo. Talvez assim eu conheça o outro lado do mundo. Outra dimensão.
Mas será que existe mesmo o outro lado?”

Pra saber... só pulando.

Então respirei bem fundo. Enchi os pulmões de ar.
Me senti um deus (um deus do nada, um deus do vazio)...
E saltei.

Saltei como quem salta numa piscina, ou no mar.
E então... por incrível que pareça: eu não caía. Eu voava.

Voava como uma águia americana.

Nossa! Como era gostoso!

Logo em seguida, a névoa feia desapareceu. E eu vi a terra... linda, verdinha, com seus lagos límpidos, montanhas azuis, homens trabalhando na lavoura.
As mulheres caminhavam com cestos cheios de roupa.
As crianças corriam, brincando umas com as outras.

Tudo era lindo. Divino. Maravilhoso (como diria Caetano).

Então, de repente, ouvi um som — bem longe:
Triiim... Triiim...

Acordei. Era o alarme do meu celular.
Me avisando que eu tinha que cumprir mais um dia de trabalho.

Levantar. Ir até o banheiro. Fazer xixi. Lavar o rosto. Olhar a minha cara amassada no espelho.
Tomar o café da manhã. Vestir uma roupa decente (a armadura sem elmo, todo dia). Escovar os dentes. E ir...
...em direção ao inferno (não o de Dante).

Que chato! Que saco! Não aguento mais!
Eu não quero mais isso.

Eu só quero é... voaaaaaaar!

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